Tudo que poderia ter sido...

 Eu só estava ouvindo o rádio, no meu lugar favorito da casa, com meu livro em mãos, a trilha sonora de fundo sempre me agradou, mas então aquelas notas lentas iniciais me chamaram atenção, aquela música que é minha velha conhecida, e saberia cantar até de trás pra frente cada verso, aquela que era a nossa música. De repente, o romance em minhas mãos perdeu um pouco da minha atenção, o parágrafo se repetia duas ou três vezes mas nada absorvia, a trilha sonora pertencia a outra história.
 Ao invés de imaginar a mocinha loira e desajeitada derrubando os livros no corredor ao trombar com o cara dos sonhos; eu via nosso primeiro encontro, nada combinado na festa de despedida de alguém que nem me lembro, e em meio a tantas apresentações, aconteceu a nossa, ao som da nossa música, se alguém achou que iríamos dançar como todos os outros casais que se conheceram ali, estavam redondamente enganados, você nem de longe era pé de valsa. Inúmeras outras lembranças se sucederam, umas felizes outras nem tanto, e algumas idealizações que também sugiram na época, que me tiravam do chão e traziam sorrisos bobos aos lábios, sonhos românticos que jamais ousei te contar.
 A cadência da música, nos representa de início animada e amorosa e caindo um pouquinho a cada segundo, a melodia feita sob medida para um romance com de verão, com data marcada para acabar. E eu parti, não havia como evitar, talvez tenha sido melhor assim, do que esperar até que odiasse a música, talvez por isso eu ainda me pergunte o que poderia ter sido? Será que se eu ficasse nós voltaríamos a cadência animada e amorosa da canção? E assim com os últimos acordes da música me lembro do beijo de despedida, o último e  mais doce que trocamos.Ao fim da canção volto novamente para o mocinho que gentilmente retoma a sua amada ao equilíbrio, que já não possuem tanta graça diante das lembranças calorosas de um amor de verão.